25 setembro 2005

Farinha triga

Farinha triga. Quando eu era pequeno ainda se usava está expressom na casa dos meus avós. Os velhos entom tinham-lhe muito respeito ao pam, e mais se era pam-trigo, e fazia-no-lo bicar antes de o deitar ao lixo, daquela chamava-se-lhe lavaduras. E pra deitar o pam ao lixo havia que ter algumha boa razom.

Já choveu desde entom, e havia muito tempo que nom batia coa expressom fora dos livros. Até ontem.

Ontem fum coa mulher de excursom pola beira sul do rio Minho, e depois de visitar o feirom de Vila Nova de Cerveira, e comer arroz de marisco em Vila Praia de Âncora, entramos a fazer umhas compras num supermercado. Entre as cousa que queriamos comprar estava farinha, e foi ali -no supermercado os 3 mosqueteiros- onde, pola primeira vez na minha vida, vim escrito numha embalagem comercial a velha expressom da tribo: farinha triga.

Para roborar o achado compramos pam, de farinha triga por suposto, como bem testemunha a etiqueta.





Nom foi o remoinho de sensações que assaltou ao protagonista d'A procura do tempo perdido ao provar a mais famosa das madalenas. Mas à minha mente encheu-se também de lembranças, lembranças dos quentes dias de Julho na minha nenice, nos que ainda se ceifava o pam com foucinho e se malhava na eira.

Portugal, Portugal, esse esquisito pais onde a nossa língua reina nos supermercados.

22 setembro 2005

O trilho reintegracionista

Para explicar o porque os reintegracionistas nom queremos/podemos colaborar com o isolacionismo ("normativa oficial"), vou contar um caso que me passou quando era um rapazolo.


Já morrera Franco, nom havia muito tempo, e teria eu daquelas uns 13 ou 14 anos. Era Agosto, estava de ferias na marinha luguesa, e fora com uns amigos de excursom em bicicleta. Iamos por caminhos de terra, cousa corriqueira naqueles tempos, e por suposto sem iluminaçom pública. Na volta, já no solpor, chegamos a um ponto onde as opiniões do grupo sobre qual era o caminho a seguir divergiam. Alguns consideravam que havia que ir por um caminho, nom muito amplo mas caminho, eu achava que tinhamos que ir por um trilho estreito, entanto o resto nom tinha opiniom. Trás umha breve discussom todos, excepto eu, acordaram ir polo caminho. Como eu lembrava claramente por onde vinhamos dixem-lhes entom:

- Bem, vos ides por ai, e eu marcho por aco, e já nos veremos amaham.

Nom sei se foi por ver-me tam decidido, ou por nom deixar-me só, mas vinherom todos comigo polo trilho estreito. Como dixem era no lusco-fusco, estavamos no meio do mato, e nom havia um poste de luz a vários quilómetros, de maneira que escolher o caminho errado podia significar ter que andar várias horas a pé, coa bici na mao e às apalpadelas até achar umha estrada ou algo conhecido. Mas houvo sorte, e nom tardou muito em chegarmos a terreo conhecido por todos. Daquela um dos amigos perguntou-me:
- se nom chegamos a vir contigo, virias tu só?,

e eu contestei-lhe:


- claro, eu sabia o caminho, se nom fora tam tarde eu ia convosco, davamos um rodeio, mas suponho que acabariamos atopando o caminho de volta. Mas era muito tarde, estamos a ficar sem luz, e nom podia permitir-me o luxo de perder o tempo.


Visto da distância era um bocadinho temerário, mas tinha muito claro qual era o caminho certo.


No tema da língua passa-me algo semelhante, eu considero que o caminho isolacionista é errado, e leva-nos ao desaparecimento da língua galega. Se quadra estou equivocado, mas nom se me pida que contribua ao que eu considero é umha desfeita. Se a situaçom da língua nom fosse tam premente, se quadra permitia-me o luxo de seguir a maioria até ela achar o caminho certo. Mas tampouco há muita luz para a língua galega, e neste caso prefiro andar em minoria polo caminho que considero certo, a ir com a maioria num caminho que considero errado, ainda que ir com a maioria seja sempre mais cómodo.