29 janeiro 2006

(Re)vestindo poemas II

Há uns dias um amigo, contumaz leitor de poesia, dixo-me que ficará deslumbrado polo seu último descobrimento: Dario Xoan Cabana. A mim, que gosto de poucos poetas, resultou-me estranho que alguém, que já nom é um rapaz, pudera descobrir agora ao sr. Cabana. Autor que conheço[1] e apreço desde A Fraga Amuralhada, editada no já longuíquo 1983. Cousas da vida.

Sendo como é persoeiro da FPG, asocio a sr. Cabana com o isolacionismo, e se quadra parece-lhe mal o meu atrevimento de vestir os seus versos com umha grafia distinta da sua original. Mas espero que, caso chegue a saber desta ousadia, veja nela o que é, um tributo ao seu talento.


Fraga no coraçom, nossa morada,
pedra velha luída polo fume,
coutamento que bravo e fero lume
converte em mansa a cousa dominada.

Fraga no coraçom e levantada
que de todo o que somos é resume,
lentor de velho e cálido costume,
alegria de cousa inesperada.

Fraga que dentro nossa amuralhamos
c'o nosso coraçom arrodeada,
casa própria que amamos e habitamos
considerando o decorrer da vida,
considerando a pedra cinzelada,
considerando a morte pressentida.
Dario Xoán Cabana


[1] Conhecimento literário, nom pessoal.