14 julho 2011

Reflexões ao fio do projecto Sermos Galiza - III

Alternativa

Pode-se nesta situaçom artelhar um jornal em galego, independente e crítico?. Na minha opiniom nom é viável enquanto empresa comercial. De facto vejo mesmo difícil um jornal comercial em castelhano crítico e independente dos poderes políticos e económicos, a pesar do maior público potencial. Porém, penso que é possível artelhar um jornal comunitário de qualidade, que combine o trabalho de profissionais com trabalho voluntário.

Usando as capacidades de colaboraçom que permite a internet, tenhem-se desenvolto um bom número de trabalhos comunitários, com resultados magníficos, pensemos nos inúmeros projectos de software livre, na wikipedia, na wikileaks, etc. A maior parte dos projectos deste tipo que me venhem a cabeça combinam um pequeno grupo de profissionais pagados, com um grande grupo de voluntários que colaboram sem remuneraçom económica. Acho que o galeguismo pode manter um projecto deste tipo, e mais depois que a crise económica tenha posto a nú o falhanço do sistema neoliberal que a imprensa comercial apresentava como o melhor possível.

Como implementar um jornal cidadao, que renuncie de vender o seu poder de influência, em troques do apoio cidadao?. Eis umha proposta:


Financiaçom

  • Principalmente polas quotas periódicas dum grupo, grande o suficiente, de pequenos sócios patronizadores1, estilo as rádios comunitárias dos USA, cientes que estám sustendo um projecto, i.e. que nom som simples assinantes dumha empresa jornalística. Cientes também de que o seu contributo vai ser aproveitado por outros, que sem pôr um cêntimo vam poder desfrutar do jornal. Contodo estes sócios devem ter algumha vantagem a respeito dos simples leitores.

  • Nom há porque renunciar aos ingressos publicitários, mas acho pouco realista pensar que vam representar umha percentagem importante dos ingressos.

  • Algumhas organizações poderiam apoiar o projecto, com dinheiros ou cedendo material e/ou pessoal. Penso por exemplo nos sindicatos, que som vilipendiados com freqüência nos media comerciais, e com os que se poderia negociar acordos de colaboraçom2.

  • Sem renunciar aos subsídios públicos, estes devem ser sempre usados para um fim específico, de maneira que a sua ausência nom comprometa a viabilidade do projecto.

Elaboraçom

  • Um pequeno grupo de profissionais remunerados, jornalistas e informáticos principalmente, seriam os responsáveis do mantimento do projecto: ediçom, elaboraçom de notícias, maquetaçom, etc. Cumpriria-lhes também a coordenaçom de

  • Um grupo alargado de colaboradores voluntários, que podem contribuir tanto na elaboraçom de notícias, textos de opiniom ou de criaçom, humor, etc. Evidentemente os sócios podem ser colaborar no trabalho, e resulta lógico que os editores prestem mais atençom às suas colaborações do que a outros colaboradores nom sócios.

  • Seria bom também implicar na elaboraçom a organizações, sobre todo sectoriais, por exemplo grupos ecologistas, grupos de defesa da língua, grupos religiosos, grupos laicistas, etc. Umha noticia/opiniom nos seus blogues vai ter muita menos difusom que num jornal com um certo sucesso.

1Patronizadores, ou sócios, e nom accionistas, já que nom aspiram a que a empresa, e o seu investimento, produza benefícios.

2Poderia-lhes interessar pagar parte dos gastos, servidores por exemplo, e ceder algumhas horas de trabalho dos seus jornalistas e técnicos, em troca dum certo espaço no jornal, para novas ou opiniões fornecidas por eles. Os grandes sindicatos tenhem uns portais profissionais, mas suspeito que a sua audiência nom é muito elevada.

13 julho 2011

Reflexões ao fio do projecto Sermos Galiza - II

Redefiniçom do campo de jogo

A rede tem alterado radicalmente o ecossistema jornalístico, trazendo umha forte competência para os jornais em papel, e como conseqüência as empresas jornalísticas tradicionais estám imersas numha forte crise.

  1. O público afijo-se a nom pagar por ler os jornais na rede, impondo-se um modelo similar ao que vigora na rádio e na televisom, i.e. os médias na rede tem que viver da publicidade.

  2. A rede nom conhece mais fronteiras que as lingüísticas, assim um galego, que nom se feche a dimensom internacional da sua língua, pode ler jornais dos 5 continentes sem se mover da sua casa.

  3. O custo material de fazer um jornal em linha som menores que os dum jornal tradicional. Nom há gastos de impressom e os de distribuiçom som muito reduzidos, pois umha parte importante deles é paga polo leitor.

  4. Na rede nom há apenas entraves para lançar um novo médio, como sim há para um jornal em papel, umha rádio ou umha televisom retransmitidas polas ondas. Isto facilita à cidadania poder publicar facilmente a sua opiniom, fazendo nalguns casos competência as empresas jornalísticas.

  5. Como conseqüência dos três pontos anteriores há muita oferta, que deve ser pagada com publicidade, e a competência polos recursos escassos é feroz.

  6. Por último, os jornais na rede competem com os jornais em papel, e mais, com freqüência um jornal em papel vê reduzida a sua difusom pola competência do mesmo jornal na rede.

08 julho 2011

Reflexões ao fio do projecto Sermos Galiza - I

Quais som os produtos dum jornal?

Numha visom inocente as empresas jornalísticas produzem informaçom, e portanto para poder sobreviver precisam cobrar polo seu produto, bem directamente aos consumidores, bem indirectamente por meio da propaganda. Porém os média fornecem ao seu público algo mais que informaçom, fornecem-lhes os elementos fundamentais para organizarem a sua mundovisom, a maneira na que interpretam a realidade, i.e. fornecem-lhes ideologia e dirigem a sua olhada sublinhando uns assuntos e agachando outros.

Nas sociedades democráticas a capacidade dos média de influírem decisivamente nas opiniões públicas é poder. E na lógica capitalista este poder tem um valor económico, ou seja, é também um produto dos média. Assim som bem conhecidas as ajudas económicas, mediante subsídios ou propaganda desnecessária, que a imprensa galega recebe desde as distintas administrações: Junta, deputações, concelhos, para os seus governantes serem bem tratados polas empresas que recebem tais ajudas. Estas ajudas venhem-se outorgando às empresas jornalísticas ininterruptamente desde o princípio da democracia1, algo do que nom usufruí nengum outro sector económico.

Mas nom som apenas as administrações públicas as que pagam polo poder dos média. Nom é raro os média silenciarem as protestas cidadás contra certas empresas. A maneira de pagar estes silêncios nom é usualmente tam clara como a das administrações públicas, mas é indubitável que o tais silêncios tenhem preço.

Nesta situaçom pretender ter umha empresa jornalística independente, crítica com os poderes públicos e económicos, que “venda” unicamente informaçom desaproveitando um dos seus produtos principais, a sua capacidade de influir na opiniom pública, que nom “venda” poder, é muito difícil roçando o impossível. Só se os ganhos obtidos da venda da informaçom for muito superior aos ganhos obtidos na venda do poder, seria isto possível.

1No regime anterior resultava inconcebível os média ousarem criticar os poderes públicos. Por outras palavras, as administrações públicas nom tinham necessidade de comprar os favores das empresas jornalísticas, pois tinham outros meios, muito efectivos, para assegurar-se um trato excelente.