Farinha triga. Quando eu era pequeno ainda se usava está expressom na casa dos meus avós. Os velhos entom tinham-lhe muito respeito ao pam, e mais se era pam-trigo, e fazia-no-lo bicar antes de o deitar ao lixo, daquela chamava-se-lhe lavaduras. E pra deitar o pam ao lixo havia que ter algumha boa razom.
Já choveu desde entom, e havia muito tempo que nom batia coa expressom fora dos livros. Até ontem.
Ontem fum coa mulher de excursom pola beira sul do rio Minho, e depois de visitar o feirom de Vila Nova de Cerveira, e comer arroz de marisco em Vila Praia de Âncora, entramos a fazer umhas compras num supermercado. Entre as cousa que queriamos comprar estava farinha, e foi ali -no supermercado os 3 mosqueteiros- onde, pola primeira vez na minha vida, vim escrito numha embalagem comercial a velha expressom da tribo: farinha triga.
Para roborar o achado compramos pam, de farinha triga por suposto, como bem testemunha a etiqueta.
Nom foi o remoinho de sensações que assaltou ao protagonista d'A procura do tempo perdido ao provar a mais famosa das madalenas. Mas à minha mente encheu-se também de lembranças, lembranças dos quentes dias de Julho na minha nenice, nos que ainda se ceifava o pam com foucinho e se malhava na eira.
Portugal, Portugal, esse esquisito pais onde a nossa língua reina nos supermercados.